CRIME, CORRUPÇÃO E FUTEBOL Investigação revelada pelo SBT revela elo entre diretoria do Corinthians e crime organizado no contrato com a Vai de Bet
Relatório da polícia expõe esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de comissões ilegais; presidente do clube e aliados estão na mira das autoridades


O SBT teve acesso à investigação. Uma investigação conduzida pela Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro de São Paulo lançou luz sobre um suposto esquema de corrupção envolvendo a alta cúpula do Sport Club Corinthians Paulista e membros do crime organizado. De acordo com informações obtidas com exclusividade pelo SBT News, os investigadores rastrearam cerca de R$ 1,4 milhão desviados ilegalmente do contrato firmado entre o clube e a empresa de apostas esportivas Vai de Bet, em 2024.
O esquema, revelado por meio de uma extensa quebra de sigilos bancários, mostra um caminho financeiro nebuloso: valores saíram das contas do Corinthians e, após uma série de transferências, foram parar em empresas ligadas ao tráfico de drogas e a figuras investigadas por participação em organizações criminosas. Entre os nomes citados está o de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé responsável pela comunicação na campanha do atual presidente Augusto Melo , além de outros dirigentes do clube.
O caminho do dinheiro
Segundo relatório técnico de análise bancária, o desvio foi realizado em duas parcelas de R$ 700 mil, em março de 2024. A primeira parada foi a conta da empresa Rede Social Media Design, de propriedade de Cassundé. Dali, os recursos seguiram para a Neoway Soluções Integradas — uma empresa de fachada registrada em nome de uma jovem de apenas 23 anos da periferia de Peruíbe, no litoral paulista.
A Neoway repassou R$ 1 milhão à Wave Intermediações Tecnológicas, que por sua vez enviou R$ 874 mil à UJ Football Talent Intermediação. Esta última foi denunciada por Antônio Vinícius Gritzbach, colaborador do Ministério Público que apontou seus vínculos com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Gritzbach acabou assassinado meses depois, em 2022, a mando de traficantes um crime que, agora, ganha novos contornos com a revelação dessas conexões.
Segundo a delação de Gritzbach, Danilo Lima, o “Tripa” já investigado por envolvimento em seu sequestro seria o verdadeiro controlador da UJ Football, embora seu nome não conste formalmente como sócio. A empresa, segundo o delator, atuaria no agenciamento de jogadores, inclusive de nomes de destaque como Éder Militão, zagueiro da seleção brasileira, que não tem envolvimento algum com o esquema.
Comissão paralela e rompimento do contrato
A Vai de Bet, patrocinadora que firmou um contrato de R$ 360 milhões com o Corinthians, rescindiu o acordo após tomar ciência do pagamento de uma comissão não prevista em contrato. A investigação revelou que R$ 525 mil desse montante sumiram durante o percurso financeiro, funcionando como comissão ilícita no processo de lavagem de dinheiro.
As autoridades indicam que, além do presidente Augusto Melo, outros membros da diretoria corintiana estão sob investigação. A quebra de sigilos teria revelado indícios concretos de furto qualificado e lavagem de dinheiro.
Clube nega responsabilidade
Em nota oficial, o Corinthians declarou que “não tem responsabilidade por qualquer direcionamento de dinheiro que não esteja na conta bancária do clube” e afirmou que não irá se pronunciar sobre o caso, uma vez que corre em segredo de Justiça.
O escândalo, que une futebol, política interna e organizações criminosas, ameaça abalar os alicerces de um dos clubes mais populares do país e reacende o debate sobre a fragilidade dos mecanismos de controle financeiro em grandes instituições esportivas brasileiras.
Fonte: SBT NewsApuração original de Felipe Malta e equipe de jornalismo investigativo do SBT.
COMENTÁRIOS